"... Mas esse "cortezinho" num tem que fazer não?"
Começo esse post com essa pergunta acima que foi feita à mim por uma gestante em uma roda de gestantes, onde falávamos sobre as condutas desnecessárias no trabalho de parto e parto. Quando cheguei na parte da episiotomia me deparei com duas situações:
1ª: NENHUMA das mulheres ali presente sabiam o que significava a palavra EPISIOTOMIA!
2ª: A maioria achavam que a episiotomia SEMPRE tinha que ser feita!
Bem, diante dessas situações pude chegar a conclusão de que a falta de informação e conhecimento ainda predomina dentre as gestantes, o que faz com que esse grupo seja extremamente vulnerável aos mais variáveis tipos de violência obstétrica, sendo a episiotomia uma das mais comum.
Vamos ao que interessa...
A episiotomia é um corte que se faz entre a vagina e o ânus da mulher para "facilitar" a saída do bebê durante o parto.
É um procedimento cirúrgico que consiste em fazer uma incisão na pele, gordura e músculo da parturiente, bem na hora em que a cabeça do bebê está nascendo, após realização de anestesia local, OU não! É isso mesmo, as vezes a episiotomia é feita "no cru". A Episiotomia é feita em direção à coxa ou ânus da mulher. Geralmente utiliza-se um bisturi para fazer a incisão inicial, e depois aumenta-se essa incisão com uma tesoura cirúrgica.
O músculo cortado chama-se períneo, responsável por sustentar os órgãos abdominais, garantir mais prazer no sexo e diminuir dores nas contrações. Após o corte, é necessário fazer uma sutura (costura) da área lesada, esse procedimento chama-se episiorrafia. O tamanho desse corte é variável, depende do profissional que o faz. A média é em torno de 10 pontos, mas já houve relatos de 35 pontos na episiorrafia!!! Uma total aberração!!!
Durante muitos anos, acreditou-se que a episiotomia fosse imprescindível para preservar a musculatura perineal da mulher. Hoje já se sabe que não é o caso: pesquisas já apontaram que a episiotomia não melhora os resultados perinatais, não facilita a cicatrização da área e não preserva a musculatura perineal. Além disso, não existem indicações precisas de quando essa intervenção deveria ser usada. Na verdade, a Episiotomia é uma intervenção desnecessária, que é geralmente feita apenas por hábito do médico.
Por isso, a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é de restringir o uso da técnica para que as taxas não ultrapassem os 10%. Por aqui, ela ainda é feita rotineiramente e se soma a outros procedimentos que colocam o Brasil numa posição desconfortável diante do que é preconizado pela OMS como boas práticas de atenção ao parto e ao nascimento, como a incidência altíssima de cesarianas (88% na rede privada, 46% na rede pública e média nacional de 52%, frente a uma recomendação de 15%) e o percentual de apenas 5% de parto natural (ou seja, sem nenhuma intervenção). A pesquisa ‘Nascer no Brasil’, divulgada em junho do ano passado, revelou que 53,5% das mulheres que têm seus bebês via vaginal são submetidas à episiotomia. Ou seja, “quando não se corta por cima, se corta por baixo”.
As "indicações" relatadas por alguns médicos são: mulheres com rigidez no períneo, parto pélvico (quando o bebê está sentado), sofrimento fetal e macrossomia (excesso de peso do bebê) ou, ainda, em parto de prematuros – já que a cabeça ainda não está completamente formada, a ampliação cirúrgica ajuda a evita hemorragias cranianas. Estes casos representam 10% dos partos normais, de acordo com a OMS. Porém, essas supostas indicações não tem nenhum respaldo científico, as complicações superaram qualquer benefício que pudesse existir. Existem estratégias para deixar a musculatura mais elástica e facilitar o parto normal, como massagem e pompoarismo. Até exercícios físicos mais leves, como caminhada, ajudam (será assunto do próximo post).
A OMS não indica em quais situações a episiotomia dever ser feita. Melania Amorim (obstetra) é categórica: “não há benefício nenhum no procedimento e nenhuma das indicações alegadas por quem faz têm respaldo científico”. Há 12 anos, a taxa da especialista é zero e ela, que é professora do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), hospital-escola da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS), sequer ensina a técnica aos alunos.
Na verdade o que existem são médicos que foram treinados para isso e usam a desculpa de quer suturar uma episio é melhor do que uma laceração, em outras palavras, é mais cômodo para ele!
Uma Epísio não impede de haver laceração natural, não diminui significativamente o tempo do expulsivo, não impede sequelas na musculatura do assoalho pélvico e ainda acaba aumentando a perda de sangue durante o parto!
As consequências podem ser drásticas: quando os pontos não são feitos corretamente, há risco de fibrose, dor prolongada, dificuldade de cicatrização e perda da sensibilidade na região. Alguns estudos da Biblioteca de Cochrane (ONG mundial que revisa publicações da medicina) mostram que a episiotomia pode trazer complicações graves, como laceração e frouxidão na região perineal, que, por sua vez, levam a problemas intestinais ou, até mesmo, na contenção de órgãos como o intestino.
A Episiotomia é, muitas vezes, a parte mais traumatizante do parto. Todas as mulheres, sem excessão, temem passar por isso (algumas mulheres têm tanto medo que preferem optar por fazer uma cesariana só para escapar da Epísio). As que são submetidas ao procedimento muitas vezes relatam sensações extremamente desagradáveis, como a sensação de ter sido abusada ou mutilada. Efetivamente, por não haver indicação precisa e ser feita apenas por costume, a Episiotomia poderia ser considerada uma mutilação genital. Na maioria das vezes a Episiotomia é feita sem o consentimento da mulher, o que faz com que seja um procedimento extremamente violento e doloroso, tanto física quanto psicologicamente.
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Foto projeto 1:4 Retratos da violência obstétrica |
Diante de tudo o que foi exposto aqui, podemos ver que a episiotomia é uma grave violência obstétrica, onde centenas de mulheres são mutiladas todos os dias sem nem sequer o por quê e para quê!!! Existem diversos relatos na internet de mulheres que sofreram esse tipo de abuso, onde as consequências mais relatadas são a dispaurenia (dor durante relação sexual), não conseguir sentar, dor prolongada, perda de sensibilidade.
Sempre que participo de grupos de gestantes ou quando estou acompanhando alguma mulher como doula, pergunto se ela teve ou está tendo alguma preparação do períneo para o parto. 100% dizem que não!!! Isso se torna fator prejudicial para a mulher que quer ter seu filho de forma natural. Então, é preciso inserir essa prática nas consultas de pré-natal para que não só a episiotomia seja evitada, mas que grandes lacerações também sejam evitadas. Esta informação e preparo deve vir antes, na hora do parto não dá mais! Existem vários exercícios, simples, que a mulher pode fazer até mesmo em casa, desde que tenha prévia orientação de um profissional, e de baixo custo que vão ajudar a dar elasticidade ao períneo e a toda a musculatura que será importante na hora do parto.
Nós, mulheres, é que temos que dizer: chega! Precisamos nos informar e denunciar para que essa prática seja abolida. Não seja mais uma vítima do sistema!!!
Fontes consultadas: